top of page

Ser Mãe

  • Rita de Cássia
  • 20 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

Quando criança, tinha muitos sonhos. Dentre eles, ser mãe, mas nunca tive pressa para isso. Tanto que acabei ficando grávida aos 29 anos.

Desde o início falava que não me interessava em saber o sexo da criança, pois o importante era que nascesse saudável.

Preparei enxoval, ganhei muita coisa de todas as cores e não me importava quando falavam para que eu fizesse exames para saber o sexo, pois, para mim não importava. Já amava aquele bebê desde o momento que confirmei a gravidez.

Quando meu filho nasceu, foi o maior evento na família da minha mãe, depois de anos sem ter uma criança, eis que nasce meu filho, virando o “xodózinho” da família. Durante alguns anos foi presenteado por todos.

Em casa, eu e minha mãe o criamos com muito amor, dando tudo que nos fosse possível. Não tínhamos muito, mas nada faltou para ele durante sua infância. Estudioso, inteligente, sempre desde muito pequeno percebia o quão especial ele era para mim. Por vezes falava coisas que normalmente ouvimos de adultos e de repente estava ouvindo uma criança de 5 anos falando.

Aos 12 anos ele sofreu bullying na escola, disse ele que já percebia os olhares, mas depois de uma trabalho escolar de inglês a coisa ficou mais séria, pois o agrediram verbalmente. Me vi obrigada a mudá-lo de escola pois após uma conversa com a diretora da escola com a promessa da mesma de que providências seriam tomadas, mas que ninguém saberia da nossa conversa. No dia seguinte, todos estavam sabendo e a situação para meu filho piorou, ele teve medo de voltar para a escola e sofrer algum tipo de agressão física.

Mudou de escola mas nada mudou pois, após o ocorrido ele começou a ter crises de ansiedade, pânico, depressão e não conseguiu mais sair de casa. Durante um semestre ele ficou sem ir a escola por medo de sair de casa.

Neste período de muito sofrimento eu sempre perguntando se ele estava bem e a resposta era sempre a mesma, “tudo mamãe”, mas sabia que não, porém não falava nada, sabia que na hora dele ele viria até mim conversar.

Passado um tempo ele veio, já não estava mais aguentando guardar tanta coisa, chorava descontroladamente, pedia perdão, falava para eu não brigar com ele, não xingá-lo mas não falava logo o que o afligia. Depois de eu fazer todas as promessas que não faria nada mas que queria saber logo o que estava ele contou.

Aos prantos, me contou que era gay mas que não era para eu odiá-lo por isso.

Num primeiro momento levei um choque, “meu filho gay???” Confesso que foi um baque pois como sempre falo, quando estamos grávida não falamos - vou ali ter um filho gay e já volto. Levei um tempo para entender, aceitar, compreender e aprender muita coisa. Ainda estou aprendendo e digo, não é fácil.

Infelizmente vivemos em um mundo onde impera o preconceito, a homofobia, e, todo este tipo de violência causa nos afetados transtornos, como a depressão, uma angústia que só aumenta quando os pais não aceitam seus filhos e filhas exatamente como elas são.

Hoje ele está com 18 anos, ainda estou aprendendo muito com ele, e como ele dizia quando tinha 3 anos : - eu vim ao mundo pra te salvar mamãe!! E veio mesmo, veio me salvar da ignorância, veio me colocar de volta no caminho que tenho que percorrer pois me tiraram do caminho na minha infância, mas agora está tudo voltando ao normal e eu caminhando rumo ao lugar para onde deveria estar desde o princípio. .

Não vou falar que é fácil ser mãe de gay porque não é, vivemos em pleno século 21 em meio a pessoas que ainda te olham de “rabo de olho” por ter um filho(a) gay. Sou solteira e sei que homens me olham diferente quando descobrem que tenho um filho gay. Graças a Deus é a minoria, uma insignificante minoria, mas tem.

Mundo machista, hipócrita, mentiroso, onde as pessoas por pura ignorância e preguiça não abrem suas mentes para a o melhor lado da vida, A ALEGRIA DE VIVER.

Viver de bem com você e com o mundo;

Viver sem regras, imposições;

Viver sem dogmas;

Viver livremente sem o cabresto de palavras mal interpretadas das igrejas;

Viver o amor, não o sexo, mas o verdadeiro sentido da palavra amor que é uma emoção. Um sentimento que leva você a desejar o bem para o outro independente do gênero masculino ou feminino.

Sou feliz e tenho muito orgulho por ter sido escolhida pelo meu filho, razão da minha existência. Desde seu nascimento só tem me ensinado, e desejo aprender muito mais com ele. Espero que ele possa de alguma forma fazer diferença no mundo, no meu ele já fez, agora é chegada a hora do mundo.

Ser mãe de gay não é fácil, mas é a melhor coisa que pode acontecer na vida de uma pessoa, principalmente por todas as coisas que aprendemos, ouvimos, vemos. Dói ? Claro que dói principalmente quando há o sofrimento, mas são as melhores pessoas pois tem o espírito livre e com isso são mais felizes.


 
 
 

Kommentare


Viver é Aprender

Sou Rita de Cássia, mas podem me chamar de Ritinha ..

Posts Recentes
  • https://www.instagram.com/viverehapr
  • https://www.facebook.com/viverehapre
  • https://twitter.com/cassialeon

© 2017 Blog Viver é Aprender

Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page