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Maio sem fim

  • Rita de Cássia
  • 17 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

Não gosto muito do mês de maio, para mim é um mês triste que não termina nunca.

No dia 1º de maio de 2010 minha mãe deu entrada no Pronto Socorro desacordada.

Ao examiná-la o médico já veio com uma cara de poucos amigos e a simpatia de um troglodita me perguntar o que havia acontecido com ela e o que era o hematoma que ela tinha no rosto.

Expliquei o que havia acontecido e com o cinismo que me é peculiar quando necessito contei o que havia acontecido e por qual motivo ela estava com o hematoma no rosto. Aí ele “baixou” um pouquinho a bola, mas bem pouquinho mesmo e a levou para fazer exames.

Minha mãe no dia anterior havia caído em casa e não soube explicar como, já que ela tinha Alzheimer, o que a deixou com um hematoma no rosto do lado direito e um galo enorme na testa. Levei-a ao Pronto Socorro e o médico que a atendeu não pediu exame nenhum, a não ser um eletrocardiograma pois o mesmo disse que ela estava com taquicardia. Depois pediu para ela levantar os braços, as pernas (parecida aula de ginástica) e depois mandou ela pra casa e disse que se ela sentisse dor era para dar dipirona e fazer compressa com água morna para sumir os hematomas.

Quando contei isso para o médico ele não gostou muito, mas fazer o que precisa aceitar, mesmo porque se ele puxasse a ficha do dia anterior ele veria que falava a verdade.

Enfim, levou minha mãe para fazer tomografia, quando voltou estava mais educado e me preparou para o pior pois no exame foi descoberto um coágulo de sangue e precisam fazer cirurgia urgente. E lá se foi minha mãe para a sala de cirurgia.

O desespero, a agonia, foram tomando conta de mim, pois o médico já preparava para o pior.

As horas não passavam e o sofrimento só aumentando por não saber o que aconteceria depois. Enfim saiu um rapaz um novo que em princípio pensei que fosse um aluno do Ensino Médio de tão novinho que era, passou por mim e não falou nada deixei pra lá.

Tempos depois este mesmo rapaz voltou e perguntou-me, você quem está acompanhando a sra. Rosa ?? Sim, respondi. Que bom. Fique tranquila, correu tudo bem na cirurgia, ela está sedada, daqui a pouco vamos levá-la para a UTI e a você vai vê-la, só não se assuste pois ela está com a cabeça enfaixada, mas ela está bem.

Agradeci e depois de um tempo foi o que aconteceu, ela saiu da sala de cirurgia e levada para a UTI. Pude acompanhá-la mas não poderia ficar com ela. Deste dia em diante, todos os dias que a visitava ninguém me dava esperança, mesmo porque ela não reagia a nada.

15 dias de agonia, com os médicos me preparando para o pior e eis que no 16º dia ao visitá-la a médica veio sorridente me dizer que ela havia acordado e teve uma reação, mas eles precisavam ter certeza e perguntaram se tinha mais alguém querendo vê-la, mencionei que meu filho, na época com 11 anos estava me esperando na recepção, foi quando a médica responsável pela UTI permitiu a entrada dele para sabermos qual reação ela teria.

Claro que foi a melhor possível pois quando ela o viu deu um sorriso e falou oi para ele, eu como já sou chorona naturalmente comecei a chorar de alegria, enfermeiras da UTI e a própria médica ficou feliz também, pois perceberam que ela estava bem.

No dia seguinte ela já estava em um quarto e a partir dali minhas esperanças foram aumentando, sonhávamos com o dia que ela voltaria para casa. Não foi fácil ver minha mãe frágil na cama parecendo uma criança. Quando eu chegava ela falava comigo mas sempre tinha aquela sensação que ela não sabia quem eu era. Um dia fiquei gripada e achei melhor não ir ao hospital para não passar para ela. Fiquei três dias sem vê-la, no dia que apareci ela abriu um sorrisão pra mim e disse : oi meu amor, a mãe tava com saudades… minha alegria foi tão grande que quase chorei, ela tinha me reconhecido e sentiu minha falta, perguntou porque eu tinha “sumido”, disse que estava doente, ela ficou preocupada e perguntou se eu estava melhor, disse que sim, que estava ótima. Passaram-se alguns dias, quando foi no dia 21 de maio (acho!!) o médico que cuidava dela (lindo por sinal..rs) disse que daria alta para ela no dia seguinte, que era para eu me preparar para levá-la para casa.

Voltei toda feliz pra casa. Eu e meu filho fizemos uma faxina em casa, arrumei a cama dela do jeitinho que era arrumada no hospital, um grande amigo iria me ajudar a arrumar uma cadeira de rodas para ela, enfim estávamos nos preparando para tudo. Avisei minha vizinha e amiga da minha mãe que ela voltaria para casa, estávamos todos ansiosos com o retorno dela.

No dia seguinte fui toda feliz para o hospital mas quando cheguei o médico disse que não iria mais dar alta pois ela estava resfriada e ele preferia cuidar disso antes para que ela fosse 100% para casa, mas não foi o que aconteceu. Daquele dia em diante ela só foi piorando, definhando, chegou uma hora que ela nem comia direito. Minha vizinha e a filha dela já estavam me preparando para o fim e eu estava percebendo que realmente estava chegando a hora.

As 5:00h do dia 29 de maio de 2010 minha mãe morreu, acabou todo sofrimento, toda dor, tudo de ruim. Minha vida e do meu filho virou um caos, mas tínhamos consciência de que se ela ficasse o sofrimento, a dor seriam maiores.

Sou grata por todo carinho e cuidado que ela teve no hospital.

Sou grata pela amizade, e carinha da minha vizinha que foi a única pessoa que sempre que podia visitava minha mãe.

Apesar de terem se afastado dela enquanto estava viva, sou grata aos sobrinhos dela por terem me ajudado no dia do enterro, pois não teria conseguido sem a ajuda deles, principalmente ao meu primo Márcio.

Sou grata a DEUS por tudo, pois todo o sofrimento daqueles dias e dos dias que se seguiram foram aprendizados para mim e para meu filho. Todos os acontecimentos desde então só serviram mas nos tornar pessoa melhores hoje. Ainda estou aprendendo, mas isso só nos ajudou, apesar dos pesares.

Desculpem-me pelo desabafo, mas estava precisando.

Beijinhos e muita paz.


 
 
 

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Sou Rita de Cássia, mas podem me chamar de Ritinha ..

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